Olá!!
Segue uma resposta a um artigo do Jorge Hessen sobre a Felicidade, intitulado "CONCISA EXPLANAÇÃO A PROPÓSITO DESSA TAL FELICIDADE" ==>
http://jorgehessen.net/index.php Olá Jorge e amigos.
Muito bom o texto sobre a Felicidade. Mas ainda assim resta uma questão: os espíritas estão tentando servir a dois senhores? - e você cita o ESE, segundo o qual, "podemos ter apenas uma felicidade relativa aqui na Terra". Será que podemos mesmo? Do ponto de vista de estar desde já "desligados da matéria" (esse é o termo que os Espíritos utilizam nas obras básicas) essa felicidade pode realmente existir, mas repare que ela independe das condições materiais em que se encontra o Espírito encarnado ou Ser Humano, condições essas que você faz questão de salientar como passíveis e possíveis de serem eliminadas da face da Terra, quando você cita o exemplo do indigente caído com roupas sujas como conseqüência de "quedas morais".
Quais seriam essas "quedas morais" Jorge? Seriam "quedas" advindas do descuido do próprio homem que dissipa seus bens e cai na pobreza, ou seriam "quedas" carmáticas, ou seja, advindas de práticas ignominiosas praticadas em vidas pretéritas por esse Espírito?
Porque, os espíritas sempre tem a mania de ir logo dizendo: "olhe lá aquele mendigo, na outra reencarnação deve ter sido um rico que vivia de maneira egoística".
Muito controversa essa questão, porque o próprio Jesus nasceu pobre e não consta que em reencarnações pretéritas ele teria sido um ricasso maldoso ou um sexólatra, um praticante da luxúria inveterada.
Então que negócio é esse de ficar dizendo que "se as pessoas seguissem os ensinos do Cristo, o mundo seria pior ou melhor?" De que "Se as pessoas fossem menos egoístas e amassem o próximo não haveria guerras, fome, pobreza e etc?"
Ora, se conseguissemos transmutar a Terra em um paraíso divino, não teria como os Espíritos imperfeitos demandarem o mergulho na carne para se submeterem a provas e expiações. E é por isso que a Terra é um mundo de Provas e Expiações, pois que, ela está em "igualdade de condições" para receber os Espíritos que precisam dela, para aquilo que os espíritas chamam de "evolução". A "evolução" do planeta, caminha a par com a evolução dos Espíritos que nele habitam" - disso sabemos pela própria Doutrina Espírita.
O mundo tem que ser exatamente do jeito que ele é - lógico que não precisava piorar na razão inversa das conquistas científicas e tecnológicas - mas, também acreditar que a Terra deveria ser um mundo em que se pudesse viver a "felicidade prometida aos justos" é um engodo.
E aqui entra a questão, a qual, é tema central do seu artigo: o que é a felicidade? Digo que, nada daquilo que os seres humanos experimentam em termos de "viver em fraternidade", "em paz com a família", "com a sensação de dever cumprido", "ser honesto e colocar a cabeça no travesseiro sem sentimentos de culpa", e tampouco essa felicidade articial que é construída a partir da moralidade socialmente instituída - e essa moralidade é hoje, construída pela ciência e também, à parte, pelos espíritas - pode ser considerado como a felicidade do Espírito, porque tudo isso são PROVAS!!
Eu não estou vivendo em paz e harmonia com a minha família e com os meus vizinhos - e os espíritas acreditam que, se estão nessa situação, é porque merecem - mas eu estou vivendo nessa "paz e harmonia" como prova. Em que consiste essa prova? Consiste em eu acreditar ou não que eu estou sendo feliz ou não, como na estória de Krishna e Narada, em que Narada pede a Krishna para lhe mostrar o que é Maya (ilusão Cósmica), e quando eles saem pelo deserto, Krishna tem sêde, e pede a Narada que vá em busca de água. Ele vai, e ao longe vê uma aldeia, em que, chegando lá se depara com uma linda mocinha. Se esquece de Krishna que está com sêde, apaixona-se pela moça, se casam, têm filhos, fica rico, e num "belo" dia, surge uma enchente e acaba com tudo, e fica somente ele ao pé de um barranco com amargas lamentações e imprecações, quando então, surge Krishna perguntando, "meu filho, cadê a água? Faz meia hora que foste buscá-la!" "Meia hora! Se passaram doze anos" responde Narada.
O mito retrata o mergulho do Espírito no mundo de Maya (mundo material), e a felicidade que ele julgava ter com sua mulher, seus filhos e sua riqueza, eram precisamente a
ilusão (Maya) que ele pedira a Krishna que lhe mostrasse. A enchente significa a desencarnação e a perturbação espiritual a que está submetido, Narada, e Krishna, é o reencontro com a própria consciência espiritual na sua retomada de consciência como Espírito, que "uma vez liberto da matéria" (liberto das ilusões), "pensa de maneira diferente". E Krishna - que agora pode representar um instrutor espiritual - consola Narada, lembrando-lhe que lhe será dada nova oportunidade para o mergulho em Maya - uma nova reencarnação.
Mas os espíritas - como vemos lá no seu discurso - acham que "fazer o bem ao próximo, deixando de sermos egoístas" nos libertará de todas as ilusões. Será mesmo assim?? Narada não representa, de fato, senão o homem trabalhador e honesto que vive dignamente, trabalha, constrói, produz riquezas, faz o bem gerando empregos, criando, educando e amando os seus filhos? E ainda assim, esse homem "feliz", retorna ao mundo espiritual todo perturbado, sem consciência da sua natureza espiritual.
Não existe portanto nenhuma felicidade terrestre. O que se chamam de felicidade não são senão provas para os Espíritos, como no exemplo que você cita da moça bonita, que de tão bela, tem que ir ao psicólogo, porque esta beleza lhe traz perturbações de ordem emocional, e o que para muitos se lhe afiguram uma "felicidade", para aquela moça, para aquele Espírito encarnado não é senão uma prova, e que prova! A prova da beleza física, que leva o indivíduo a acreditar-se melhor do que os outros. E aí vem a questão: qual é a beleza de um Espírito desnudo? (= liberto de todas as ilusões?).
Decerto também, somos felizes em termos nascidos homens e mulheres, e ter a "felicidade" de utilizar a energia do sexo - que é uma demanda da matéria e não algo que está na mente do Espírito, como afirma a maioria dos espíritas - de podermos procriar e ter a nossa família. Mas esta suposta felicidade não será também uma prova? Espírito tem sexo?
Se Espírito não tem sexo, qual é a razão de eu acreditar que sou um homem, ou que sou pai ou filho, ou que tenho filhos e filhas, quando na verdade todos esses citados não são senão Espíritos cumprindo provas?
"Amo minha mãe". Não, você não ama. Você tem apego. Amo meus filhos, minha esposa, mas detesto minha sogra; então você não ama: num caso tem apego pelos filhos e esposa, e noutro, o apego doentio a uma situção de não gostar de alguém que não é capaz de lhe proporcionar algum prazer.
Sim, amamos nossos amigos, nossa esposa, nossos filhos, na medida em que eles nos dão segurança socialmente, nos dão prazer, nos dão a mão amiga e o carinho de que tanto necessitamos, mas por que razão não amamos a esposa infiel, o amigo traidor, os filhos ingratos e a sogra chata? Porque não sabemos amar incondicionalmente, o que levou Paulo de Tarso a dizer que "O ser humano é inimigo de Deus", ou como disse Fernando Pessoa, "eu digo que uma flor é bonita em troca do perfume que ela me dá". É aí que subjaz o egoísmo que é a causa das nossas misérias, e não pelo fato de fazermos ou não o bem ao próximo!
Então o Espírito ama de um jeito, e o ser humano ama de outro jeito, porque se o ser humano amasse da forma que o Espírito pretende amar, ele amaria a esposa infiel, pois, não foi ele mesmo que pediu a prova de casar-se com uma mulher que posteriormente lhe seria infiel??
Como diz Swami Vivekananda: "Se eu for um ladrão, roubarei o tesouro do rei, e se for para eu amar, amarei a Deus". E o que é amar a Deus sobre todas as coisas senão amar tudo "de mal" que nos acontece??
Voltamos à questão 132 de O Livro dos Espíritos, sobre o Objetivo da reencarnação, e também na questão 258 e seguintes sobre a Escolha do Gênero de Provas, que é o próprio Espírito quem escolhe o Gênero de Provas pelas quais irá passar, e a Deus, cumpre fornecer os meios para que o Espírito se submeta a essas provas.
Assim, quando eu resmungo e impreco contra a vida, porque minha mulher me traiu, meu sócio me roubou, perdi tudo que eu tinha e estou na miséria, eu estou QUESTIONANDO a sabedoria de Deus, e não amando a Deus.
Amar a Deus seria "amar o mal" que nos acontece, ou seja, ver e viver com equanimidade tanto o "bem" quanto o "mal" que nos acontece.
Desse ponto de vista não há nenhuma felicidade possível na Terra, e aqueles que se julgam felizes, e ao olhar o mendigo caído na sarjeta julgam-no infeliz, estão iludidos.
Foi essa mentalidade que levou Sidarta Gautama, o Buda, a renunciar ao trono e tornar-se mendigo, porque, apesar de a sua condição de príncipe reunir todos os requisistos para que ele fosse o mais feliz dos homens, sabiamente ele fez a seguinte pergunta: "De que vale viver essa felicidade se o destino de todos os homens é a morte"?
Trata-se de se desumanizar o quanto antes, assim como o Filho do Homem, que, comparado à natureza, "as raposas têm suas tocas, as aves do céu, os seus ninhos" mas ele mesmo "não tem uma pedra onde reclinar a cabeça dolorida".
Quer dizer, ele, que é o Mestre dos Mestres, não era do mundo "e por isso o mundo me odeia", disse ele. Esse não ser do mundo consiste em negar todas as regras sociais estabelecidas, todos os tabus, tradições e costumes estruturados a partir da moralidade, essa moralidade hipócrita que é apenas uma invenção dos homens, mas que muitos religiosos gostam de fingir que é a "lei de Deus instaurada na Terra". Sim, a "lei de Deus está instaurada na Terra", mas como Deus tem outras ocupações aí pelo Universo afora, então, obviamente há os seus representantes aqui na Terra não é mesmo? (Isto não é nada pessoal, refiro-me a todas as religiões dualistas, incluindo a espírita que não se pretende religião, mas é!).
Esses representantes - falsos profetas, hipócritas por natureza - já tem de antemão estabelecidos os códigos morais sobre como é que se deve viver para obter a felicidade, e quais normas se devem seguir, qual o comportamento adotado para atingir esse reino de Deus que está dentro de nós. Mas, se o Reino de Deus está dentro de nós, como então as diretrizes e normas de conduta moral para se atingi-lo se encontram fora de nós? ?
"A felicidade não é deste mundo"; "O meu reino não é deste mundo". Na prática da meditação, por exemplo, não encontramos nenhum estado de êxtase ou uma alegria sem tamanho, mas apenas começamos a enxergar que a busca da felicidade na Terra, é busca do prazer - não falo desse prazer instintivo ao qual você se reportou no seu artigo, por sinal muito bem escrito. Falo desse prazer que consiste em fazer, em viver de tal modo que nada dê errado, e isto é contra as leis da Natureza. Como diz Fernando Pessoa, "quero ser infeliz um pouco também, porque não é normal ser feliz o tempo todo".
Toda vez que idealizamos uma vida em que tudo corra perfeitamente, em que nos esforçamos ao máximo para que nenhum empecilho surja para estragar os nossos planos de felicidade, lá na frente com certeza, como Narada, vamos nos deparar com a enchente do desgosto e da frustração, porque faz parte deste mundo ser feliz e infeliz, e a felicidade consiste em olhar ambos com os mesmos olhos e com a mesma serenidade.
O que se demanda é sair deste mundo. É isso o que o Espírito está pensando quando escolhe a prova. Ele não está pensando: "eu vou dar uma melhorada, e na outra reencarnação a coisa fica mais fácil". Não, ele mergulha de cabeça na prova dele! Ele vai confiante! Mas sucede que, é da natureza do próprio mundo que surjam obstáculos inesperados - dentro do contexto das provas, é claro - assim como o homem que olha de cima da montanha o caminho que irá percorrer, mas não sabe se tropeçará em alguma pedra quando estiver em demanda pelo mesmo.
"Temos várias reencarnações para evoluir", dizem os espíritas. Logo - isso ninguém fala, é claro, mas se deduz - "depois a gente pensa nisso" - na questão da vida interior.
Como então, está em os Livros dos Espíritos que "desde o princípio uns seguiram o caminho do bem absoluto, e outros seguiram o caminho do mal, e neste último que se encontra a maioria?" Por que nós também não podemos ser como os primeiros que "seguem desde o princípio o caminho do bem absoluto"? Porque estamos iludidos. Servimos a dois senhores, e, as autoridades que instituem a moralidade, já nos livram da preocupação de pensarmos em nós mesmos, da preocupação e da dificílima tarefa que é buscar a verdade por nós mesmos, uma vez que, em se cumprindo à risca os códigos morais estabelecidos, "tudo vos será dado por acréscimo". Será?
Então "a felicidade não está meramente prometida, ela está no aqui e agora; ela é um estado de Espírito, uma maneira de viver" (Friedrich Nietzsche, ao traçar o perfil psicológico de Jesus, em O Anti-cristo).
Por felicidade entendo encarar as vicissitudes (altos e baixos da vida) com a mesma serenidade e estado de ânimo: nem se empolgar com um estado feliz de coisas que nos estão acontecendo - porque isto é ilusão - e nem se desesperar ante um estado de coisas em que nada dá certo - idem.
Sex Jun 14, 2013 11:34 am por espiritual
» SE VOCÊ MEDITAR..........Continuação e fim.........
Sáb Jan 05, 2013 8:15 pm por coronel
» SE VOCÊ MEDITAR......Continuação......
Sáb Jan 05, 2013 8:07 pm por coronel
» SE VOCÊ MEDITAR... continuação.......
Sáb Jan 05, 2013 8:01 pm por coronel
» SE VOCÊ MEDITAR O MUNDO SERÁ MELHOR
Sáb Jan 05, 2013 7:53 pm por coronel
» O QUE É O EGO? COMO ELIMINÁ-LO?
Sex Abr 20, 2012 9:51 pm por Nairan
» Estou aqui para aprender.
Qua Abr 11, 2012 7:45 pm por Monstrinho
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Qua Abr 11, 2012 7:31 pm por Monstrinho
» Nisargadatta Maharaj: o que é ego, a ilusão e o Eu - Crítica à Filosofia Idealista
Dom Abr 08, 2012 1:12 am por Monstrinho