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    RENOVAÇÃO MENTAL

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    Mensagem  Convidad Qua Ago 17, 2011 11:14 am

    (33) A MENTE NOVA (Krishnamurti)
    (leia com atenção)

    Vivemos num mundo tão completamente insano, confuso, destrutivo e, contudo, temos de enfrentar seus desafios. Nota-se em toda parte um processo de destruição e degeneração não só na sociedade, como também no indivíduo. Essa onda de deterioração está sempre a nos alcançar e a nos arrastar. Há divisões entre as pessoas, tanto no domínio econômico, social, político, racial como no religioso. No Oriente, sofrimento e esqualidez, tanto no campo físico, emocional como no psicológico. Em todo mundo tensão, confusão, conflito por toda parte.

    Considerando-se tudo isso, vê-se que é necessária uma mente completamente nova (para poder enfrentar esses problemas); mas não uma mente ‘recondicionada’, ou ‘colorida’ pelos comunistas, capitalistas, cristãos ou hinduístas, isto é, que não sofreram influencia de religiões, ou política, ou crenças, e, sim, uma mente totalmente nova, sem dependências, sem autoridade que a influencie. Já vimos como fazer nascer essa mente, não uma mente que seja apenas renovada, mas uma mente completamente nova.

    Estudamos a questão praticamente sob todos os pontos de vista, interior e exterior, e vimos que, quanto mais tentamos modificar a mente exteriormente, para adaptá-la a este mundo, como se faz pela propaganda, como o está fazendo a maioria das religiões, ou mediante pressão econômica ou social, tanto mais a mente fica condicionada, mais superficial, vazia, embotada, medíocre, e se torna mais insensível ainda. É bastante evidente, a qualquer um que já tenha observado essas coisas, que a mente condicionada, consciente ou inconscientemente, a mente que está sendo influenciada, ainda que muito sutilmente, por crenças, hábitos, religiões, suposições, cultura, sociedade, política, é incapaz de atender aos numerosos problemas que surgem nesta moderna civilização (não os atende como vemos, universalmente).

    Interiormente, psicologicamente, somos em geral vulgares, limitados sob o peso de nossa ilustração e saber (que consideramos bons ou até excelentes), e temos tantos problemas – de relação, problemas que surgem na vida de cada dia – o que se deve fazer e o que não se deve fazer, em que se deve crer e em que não se deve crer – uma interminável busca de conforto, segurança, satisfação, meios de fuga do sofrimento – temos tantos problemas que se os víssemos todos ao mesmo tempo, perderíamos toda esperança de resolvê-los. Assim, o que se torna necessário, desejável e essencial é uma mente nova, porque, em verdade, tudo em que tocamos (agindo sob o comando dessa mente, conhecida medíocre, estúpida, velha, como é a nossa), faz surgir um novo problema.

    Assim, é necessária uma mente “religiosa”. Esta é a mente que se depurou de todas as crenças e religiões, de todos os dogmas, suposições, ilusões, autoridade etc. Só essa mente é capaz de percebimento, de uma compreensão interior que dá tranqüilidade, serenidade. E quando a mente está tranqüila, há intenso percebimento de tudo que se passa fora dela; isso porque, por compreender, então, profundamente, a razão de todos os conflitos, frustrações, perturbações, agitações e sofrimentos interiores, ela está serena e, portanto, exteriormente ela se torna intensamente ativa, com todos os sentidos bem despertos, capaz, portanto, de observar sem nada desfigurar, sem conceituar, de seguir cada fato de maneira não tendenciosa, só observar com toda atenção.

    A mente religiosa, pois, não só é capaz de observar as coisas externas com clareza, lógica e precisão, sem deformá-las pela interpretação (q, então, será correta, mas também, graças ao autoconhecimento (isto é, conhecer o que realmente ela é), se torna interiormente tranqüila, de uma tranqüilidade que tem seu movimento próprio (‘Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará’). E, por conseguinte, essa mente religiosa se acha num estado de constante revolução. Não estamos nos referindo a nenhuma espécie de revolução parcial, comunista, socialista, capitalista, racial. Os homens, em geral, não desejam nenhuma revolução; mas há quem a deseje, mas sua revolução é sempre de natureza parcial – econômica, social, política, etc. Mas a mente religiosa é revolução total, interior e exteriormente; e, no meu sentir, só essa revolução, e nenhuma outra, pode resolver os múltiplos e inumeráveis problemas da existência humana.

    E o que pode a mente fazer? Que podemos fazer, vocês e eu, como indivíduos neste mundo monstruoso e insano? Já pensaram alguma vez nisso? Que pode fazer uma mente religiosa? Já explicamos, com muita clareza que a mente religiosa não é a mente cristã, hinduísta ou budista, ou pertencente a qualquer seita ou religião extravagante, com suas fantásticas crenças e promessas. A mente religiosa é aquela que, tendo percebido interiormente seu próprio valor (o que ela realmente é), a verdade de suas percepções, sem deformação, sem interpretações incorretas, é capaz de resolver de maneira sã, lógica e racionalmente os problemas que surgem, não permitindo que nenhum deles crie raízes. Desde que deixamos um problema lançar raízes na mente, existe conflito; e onde há conflito, está presente o ‘processo’ de deterioração, não só exteriormente, no mundo objetivo, mas também interiormente, no mundo das idéias, sentimentos e afeições.

    Que pode, então, fazer a mente religiosa? Provavelmente muito pouco, porque o mundo, a sociedade é constituída de indivíduos ambiciosos, ávidos, ‘aquisitivos’, facilmente influenciáveis e que desejam pertencer a (ou possuir) alguma coisa que, julgam, lhes trará, permanentemente, paz, tranqüilidade e segurança fisiológica e psicológica, filiando-se a certas correntes ou a certos padrões de conduta. Essas pessoas não podem ser modificadas senão pela influência, propaganda, pelo oferecimento de novas formas de condicionamento (que supõem mais vantajosas ou mais agradáveis, e que ‘preencham’ seu vazio interior). Mas a mente religiosa (que abriu os olhos) lhes diz que se despojem, interiormente, de tudo isso. Porque é só em liberdade (livre de todas as dependências e autoridades) que se pode descobrir o que é verdadeiro e se existe a Verdade ou Deus. A mente que apenas ‘crê’ nunca descobrirá o que é verdadeiro ou se existe Deus; só a mente livre (de quaisquer crenças, ilusões, suposições, opiniões) pode descobri-lo. E, para sermos livres, temos de penetrar (compreender profundamente) todas as servidões a que a mente a si mesma impôs. Isto é dificílimo, pois requer muita atenção, penetração, exterior e interiormente.

    Nós sabemos que quase todos vivem às voltas com o sofrimento; sofremos de uma ou outra maneira, física, intelectual, emocionalmente, por fatos exteriores ou idéias interiores. Somos torturados e nos torturamos a nós mesmos. Conhecemos o desespero e a esperança, e o medo sob todos seus aspectos; e, nesse turbilhão de conflitos, contradições, frustrações, ciúmes, inveja e ódio, e satisfações ou preenchimentos de nosso vazio interior, transitórios, efêmeros, debate-se a mente. Aprisionada que está, sofre, e todos sabemos que sofrimentos são estes: o sofrimento ocasionado pela morte, pela doença; o sofrimento da mente insensível, ou da mente muito racional e intelectual que conhece o desespero, porque reduziu tudo a pedaços e nada mais lhe resta (analisou e estudou tudo, e percebeu que as coisas do mundo não se explicam e, então, não encontra sentido na existência).

    A mente sofredora faz nascer, de seu desespero e esperanças, as várias filosofias que aí estão; busca refúgio através de numerosas vias de fuga, de esperança, confiança, conforto, esquecimento, segurança, através da política, patriotismo, idealismo, argumentações verbais, opiniões, religiões e crenças, suposições (porque não comprovadas). E para essa mente sofredora existe sempre uma igreja, uma religião organizada pronta a acolhê-la e torná-la ainda mais embotada com suas promessas de consolo.

    Conhecemos tudo isso e, quanto mais refletimos e pensamos, tanto mais intensa a mente se torna e nenhuma saída encontra. Fisicamente, é possível fazer algo contra o sofrimento: procurar o médico, tomar uma pílula, se alimentar melhor; mas, psicologicamente, aparentemente, nenhuma saída existe a não ser a fuga. E a fuga torna a mente mais embotada. Poderá ser penetrante em seus argumentos, em suas defesas, mas a mente em fuga está sempre com medo, porque precisa proteger, defender, a coisa em que se refugiou e, como é evidente, tudo aquilo que protegemos, que possuímos, faz nascer o medo em nós.

    E, assim, o sofrimento continua; exteriormente, talvez, possamos afastá-lo, mas interiormente ele continua existente, corrompendo, putrefazendo. Mas podemos ficar, totalmente, completamente, livres dele? Esta é a pergunta correta que se deve fazer; porque, se perguntamos ‘Como ficar livre do sofrimento?’, então, o ‘como’ cria o padrão do que se deve fazer e do que não se deve fazer, e isso significa seguir por uma via de fuga, sem enfrentar o problema, a causa-efeito do próprio sofrimento. Assim, vamos investigar mais de perto essa questão.

    O sofrimento perverte e deforma a mente. Contrariamente ao que se pensa em determinadas crenças, o sofrimento, o sacrifício, não é o caminho para Verdade, para a Realidade, para Deus (ou como quiserem chamá-lo). Tem-se tentado enobrecer o sofrimento, dizendo-o necessário, inevitável; que traz amadurecimento, compreensão etc. Mas a verdade é que, quanto mais uma pessoa sofre (tanto mais nervosa, impaciente ou revoltada fica) mais ansiosa se torna de fugir, de criar uma ilusão, uma saída ou esquecer. Assim, para a mente se tornar sã, saudável, deve compreender o sofrimento e ficar completamente livre dele. E isso é possível?

    Como compreender por inteiro o sofrimento? Não estamos falando de certo tipo de sofrimento pela qual, por acaso, estejamos passando; existem, como vocês sabem, muitas variedades de sofrimento. Estamos falando do sofrimento em geral, da totalidade da coisa; e de como compreender e sentir a totalidade de alguma coisa, o todo dessa coisa. Estão entendendo?

    Através da parte nunca é possível sentir o todo; mas, se se compreende o todo, a parte pode então se ajustar nele e tornar-se, assim, significativa.Ora, como se pode sentir o todo? Estão entendendo o que quero dizer? Sentir o todo, não apenas uma parte ou outra, mas o todo; sentir a totalidade da humanidade; sentir, não apenas, a beleza de uma paisagem daqui ou dali, porém a beleza de toda a Terra; sentir o amor total – não apenas o amor pela minha esposa e meus filhos, mas o sentimento total do amor (profundo, incondicional) por tudo e por todos; conhecer o sentimento total da beleza, não da beleza de um quadro na parede, ou de um sorriso num belo rosto, ou de uma flor, de um poema, porem aquele sentimento de beleza que transcende todos os sentidos, todas as palavras, toda expressão. Como sentir assim? Vocês já se fizeram esta pergunta?

    Nós nos satisfazemos tão facilmente com um quadro na parede, com nosso jardim particular, uma paisagem que nos atrai a atenção (satisfação sempre temporária, pois que, mais dia menos dia, queremos outras coisas que nos satisfaçam). Mas como alcançar esse sentimento de inteireza da beleza da Terra e do céu, da beleza da humanidade? Percebam o que quero dizer – o sentimento extremamente profundo de tudo isso, de tudo.

    A mente que está em conflito, que está em guerra interiormente, se torna embotada; não é uma mente sensível (às coisas profundas). Mas, o que é que torna a mente sensível, não para uma ou outra coisa, mas sensível ao todo? Quando é que ela é sensível, não apenas para o belo, mas também para o feio, para tudo? Só o é, por certo, quando não há conflito (comparação, separação, divisão, avaliação); isto é, quando a mente está tranqüila interiormente e, por conseguinte, é capaz de observar todas as coisas exteriores com todos os sentidos (sem interferência, preferências ou interpretações do ‘eu’). Ora, que é que gera o conflito que existe, não apenas na mente consciente, exterior – que está sumamente consciente de seus raciocínios, de seus conhecimentos, sua competência técnica, etc. – mas, também, na mente interior, inconsciente, a qual, provavelmente, se acha no ‘ponto de fervura’ em todas as horas (conseqüência dos inúmeros conflitos interiores). Que é, pois, que gera o conflito? Por favor, não respondam, porquanto a mera análise ou investigação psicológica não resolve o problema. O exame verbal pode mostrar, intelectualmente, as causas do sofrimento, mas estamos falando de ‘deixar de todo’ o sofrimento. É preciso ‘experimentar’ profundamente (tudo isso), ao mesmo tempo em que falamos, sem nos deixar ficar apenas no nível verbal.

    O que cria o conflito é, evidentemente, o ‘puxão’ em diferentes direções (a dúvida da escolha, o que fazer e o que não fazer, etc.). O homem que se deixou comprometer completamente com alguma coisa, que, portanto, está dependente ou sujeito a essa coisa é, em geral, insano, desequilibrado; para ele não há conflito; ele é o próprio conflito; ele é essa coisa com que se comprometeu, se identificou. O homem que crê (crença, coisa suposta, mas não comprovada) numa dada coisa sem duvidar, sem questionar, sem interrogar, que se identificou totalmente com aquilo que crê – esse homem não tem conflito nem problema (está hipnotizado). Tal é, mais ou menos, o estado de uma mente doente. E a maioria de nós gostaria de identificar-se, de ‘comprometer-se’ com alguma coisa (crença, religião, idealismo) que julga verdadeira, permanente, imutável, de tal maneira que não haja dúvida alguma e, portanto, lhe proporcione segurança e a livre de todos os problemas. Em geral, por não termos compreendido o processo do conflito, só desejamos evitar o conflito, fugir dele; mas, como já vimos, o evitar, o fugir só produz mais conflito e, por isso, mais sofrimento. Assim, se percebemos tudo isso, faço esta pergunta: Que é que cria o conflito? E conflito implica desejos, vontades, temores e esperanças contraditórias; tudo quanto é contraditório. E, porque existe essa contradição? Espero estejam me escutando, não só através de minhas palavras, mas de sua mente, de seu coração; que estejam se servindo de minhas palavras como de um portal através do qual estejam observando, escutando a si mesmos, profundamente.

    Uma das causas principais do conflito, da contradição, é a existência de um centro, um ego, o ‘eu’, resíduo de todas as lembranças, experiências, conhecimentos acumulados, pelas experiências vividas. E esse centro está sempre tratando de se ajustar ao presente ou de absorvê-lo, sendo o presente, o hoje, cada momento de nosso viver, que envolve sempre desafio e reação. Está sempre a traduzir tudo que encontra nos termos daquilo que já conhece (pelas experiências passadas que formaram a memória). O que ele conhece é todo o conteúdo de milhares de dias pretéritos, o passado, e, com esse resíduo, procura enfrentar o presente. Desse modo, ele modifica o presente e, nessa atividade modificadora altera o presente, criando assim o futuro. E, nesse processo do passado que traduz o presente e cria o futuro, se acha aprisionado o ‘eu’, o ego. E nós somos isso (nada mais que isso)!

    Assim, a fonte do conflito é o ‘experimentador’ (reagindo) e a coisa que ele está ‘experimentando’, (que o faz reagir). Não é assim? Quando dizemos ‘eu te amo’ ou ‘eu te odeio’, existe sempre esta separação entre nós e aquilo que amamos ou odiamos. E, enquanto houver separação entre pensador e pensamento, experimentador e coisa experimentada, observador e coisa observada, tem de haver conflito. (advindo da divisão, da contradição). Ora, pode-se anular essa separação, essa divisão, de modo que vocês sejam o que vocês vêem, ou que sejam o que vocês sentem?

    Importa compreender, primeiramente, que enquanto há divisão entre pensador e pensamento, tem de haver conflito, porque o pensador está sempre tentando fazer alguma coisa em relação ao pensamento, procurando alterá-lo, modificá-lo, controlá-lo, dominá-lo, tentando tornar-se bom, não ser mau, ter está ou aquela virtude ou qualidade, etc. E enquanto perdurar a divisão geradora do conflito tem de haver essa agitação da existência humana, não só no interior, mas também no exterior.

    Ora, existe pensador separado do pensamento? Está clara esta pergunta? O pensador é uma entidade separada, diferente, distinta, algo permanente e separado do pensamento? Ou existe só pensamento o qual cria o pensador, porque assim poderá dar-lhe, ao pensador, permanência? Entenderam? Porque isso? Porque o pensamento é totalmente impermanente, acha-se num constante fluir, e a mente não gosta desse estado de fluidez. O que a mente deseja é algo que seja permanente, imutável, em que possa ficar em segurança (mas não há nada imutável, nada permanente, como nos assegura a ciência quântica e o misticismo, tanto que o Buda fundou sua filosofia com base nessa incerteza e impermanência de todas as coisas; e, também não existe segurança, nem fisiológica, nem psicológica em situação nenhuma, pois que tudo é impermanente, como afirmam místicos e a nova ciência).

    Mas, se não há pensamento, não há pensador, há? Não sei alguma vez vocês experimentaram ou seguiram esta ordem de reflexões, ou investigaram inteiramente o processo do pensar e quem é o pensador. O pensamento declarou que o pensador é supremo (muito melhor que o corpo, tanto que Paulo disse: ‘o espírito é forte, mas a carne é fraca’; além disso, vê-se que tudo que nasce (o corpo) morre, mas que, como as religiões, em geral, asseguram, o espírito, a alma, não morre, é eterno) que existe a alma, o espírito, o eu superior, conferindo assim ao pensador existência permanente – mas tudo isso continua a ser resultado do pensamento, da imaginação, das crenças, das operações limitadas da mente.

    Contudo, se observamos esse fato, se o percebemos realmente, vê-se que não há centro, que o ‘eu’ é apenas ilusão. Notem, por favor, que isto pode ser muito simples de declarar verbalmente; mas penetrar o fato, vê-lo, experimentá-lo, isso é muito difícil. No meu sentir, a fonte do conflito é essa separação entre pensador e pensamento. Essa separação cria conflito; e a mente em conflito não pode viver, no mais elevado sentido desta palavra: não pode viver totalmente, não está livre (está sempre na dependência de crenças, religiões, regras, autoridades).

    Não sei se já notaram alguma vez que, quando vocês têm um sentimento muito forte, seja do belo, seja do feio, provocado do exterior ou despertado no interior, nesse estado imediato de intenso sentir não existe, momentaneamente, observador, nem divisão (Benoit). O pensador só se apresenta quando a força do pensamento se atenua. Entra, então, o ‘eu’ em ação e, com ele, todo o processo da memória. Dizemos: ‘Devo repetir este estado’ ou ‘devo evitá-lo?’ – e tem inicio o processo do conflito. Vocês podem ver a verdade disso? E que entendemos por ver? Como vocês vêem a pessoa sentada aqui neste tablado? Não a vêem apenas visualmente, mas também intelectualmente; estão vendo a pessoa com a sua (de vocês) memória, suas simpatias e antipatias, suas diferentes formas de condicionamento; e, por conseguinte, não estão vendo (realmente), não é verdade? Quando vêem alguma coisa realmente, vocês a vêem sem nada daquilo (condicionamento, simpatias, antipatias etc.) É visão pura. Então é possível olhar para uma flor sem dizer-lhe o nome, sem colar-lhe uma ‘etiqueta’, simplesmente olhá-la? E não é possível ao ouvirem algo agradável aos ouvidos – não apenas musica organizada, mas o canto de uma ave, etc. – escutá-lo com todo o seu ser? E, pode-se, pela mesma maneira, perceber realmente uma coisa? Porque se a mente é capaz de perceber, de sentir realmente, de expeimentar, então não mais existe experimentador (o eu que julga, interpreta, observa, compara, conceitua etc); só existe o experimentar. Então vocês poderão ver que o conflito, com todas suas angustias, esperanças e defesas etc., termina.

    Quando se percebe a verdade integral de alguma coisa; ao se ver a verdade de que o conflito só pode cessar quando não há mais divisão entre observador e coisa observada; quando se experimenta realmente esse estado, sem que se recorra à memória dos dias passados (isto é, a comparações, soluções anteriores ou interpretações já conhecidas, etc.) está terminado o conflito. Então vocês seguirão os fatos e não mais estarão tolhidos pela divisão que a mente faz entre observador e o fato, a coisa observada.

    O fato é: sou estúpido, estou cansado, preso à monótona rotina da existência diária. Isso é um fato, mas não gosto dele; por isso há divisão, conflito (sou assim, mas não quero ser assim). Detesto o que estou fazendo, e põe-se, assim, em movimento o mecanismo do conflito, com todas as defesas e fugas e sofrimentos que causa. Mas o fato é que minha vida é feia, superficial, vazia, cruel, escrava dos hábitos, e, portanto, sempre cheia de conflitos (divisões, dúvidas), e, portanto quero modificá-la, que não seja assim.

    Mas, se a mente não criar esse senso de divisão e, por conseguinte, não criar conflito, poderá então seguir simplesmente o fato; seguir toda a rotina, todos os hábitos, seguir tudo sem procurar alterar nada. Isto é percepção no sentido em que estamos empregando a palavra, no seu sentido mais puro e profundo. E vereis que o fato nunca é estático, nunca está imóvel. É uma coisa que se move, uma coisa viva; mas a mente preferiria torná-lo estático, permanente e não o consegue e, daí, vem o conflito. Eu amo alguém ou um fato, desejo apegar-me a esse alguém, possuir esse alguém; mas esse alguém é uma coisa viva, com existência própria, q tem sentimentos próprios e q pode se modificar a qualquer momento; por isso existe o conflito e todos os sofrimentos dele decorrentes.

    E poderá a mente ver o fato e simplesmente segui-lo? Isso, em verdade, significa uma mente intensa exteriormente, isto é, muito ativa, viva, atenta e, ao mesmo tempo, muito tranqüila interiormente (porque não está mais sujeita a conflitos). A mente que no interior não está de todo quieta não pode seguir um fato, pois este é muito rápido. Só a mente interiormente tranqüila é capaz desse processo, de seguir continuadamente cada fato que se apresenta, sem dizer que o fato devia ser ‘deste jeito’ ou ‘daquele jeito’, sem criar separação, conflito, sofrimento; só essa mente pode cortar todas as raízes do sofrimento.

    Vocês poderão ver, então, se chegaram a este ponto – não no espaço e no tempo, mas na compreensão – que a mente entra num estado em que se vê completamente só (sem preconceitos, ilusões, crenças, suposições etc.; não contaminada, não poluída, limpa, pura).

    Como todos sabem, para a maioria de nós ‘estar só’ é coisa terrível. Não me refiro aqui a esse tipo de solidão, que é coisa diferente. Refiro-me ao ‘estar só’: estar só com alguém ou com o mundo; estar só com um fato. ‘Só’ no sentido de que a mente não está sujeita a influências, não se acha cheia de lembranças e remorsos, nem presa ao passado, nem ao futuro, nem busca, nem teme: nada a prende, de nada ela depende; está só. O que é puro está só; qualquer outra coisa o torna impuro; a mente que está só conhece o amor, porque não mais se enreda no problema do conflito, do sofrimento e do preenchimento. Só essa mente é uma mente nova, uma mente religiosa. E só ela pode curar as feridas deste mundo caótico.

    Aparte: O senhor poderá falar um pouco mais sobre o que é o amor?
    K.: Isso supõe duas coisas, não? – A definição verbal, de acordo com o dicionário, a qual, evidentemente, não é o amor. Essa é a primeira coisa que envolve todos os símbolos, palavras, idéias, concernentes ao amor. A outra coisa é que só se pode encontrar o amor por meio da negação; ele só pode ser descoberto por meio da negação. E, para descobrir, a mente deve primeiramente libertar-se (negar) da escravidão das palavras, idéias e símbolos. Isto é, para descobrir o amor, a mente tem de varrer tudo o que já sabe a respeito do amor. Não é necessário varrer tudo o que é conhecido para se poder descobrir o ‘desconhecido’? Não é necessário varrermos todas as idéias, por mais que nos deleitem, todas as nossas tradições, por mais nobres que sejam, para descobrir Deus, descobrir se existe Deus? Deus, aquela imensidão deve ser incognoscível, não mensurável pela mente. Assim, precisamos cortar completamente o processo de medição, de comparação, e o de reconhecimento (para descobrir o que não é conhecido ainda).

    Do mesmo modo, para saber, experimentar, sentir o que é o amor, a mente deve estar livre (de tudo) para descobri-lo; estar livre para senti-lo, para ‘viver com ele’, sem a divisão entre observador e coisa observada. Precisa ultrapassar as limitações da palavra; perceber tudo o que a palavra sugere: amor pecaminoso e amor divino; amor nobre e amor ignóbil – todos os preceitos e sanções e tabus sociais com que temos cercado essa palavra. E isso representa empreendimento dificílimo, não? – amar um inimigo, amar a morte. E o amor não é o oposto do ódio, porque todo oposto é parte de outro oposto. O amor total não tem opostos. Amar, compreender a brutalidade que impera no mundo, a brutalidade dos ricos e poderosos; ver o sorriso no rosto do pobre por que vocês passam na estrada e participar da felicidade dessa pessoa – experimentem isso uma vez para ver o que sucede. Amar requer uma mente que esteja sempre a purificar-se das coisas que conhece, que experimentou, escolheu, acumulou e às quais se apegou. Sendo assim, não há possibilidade de descrever essa palavra, o que é o amor; só podemos senti-lo em sua totalidade, dentro de nós, com todo nosso ser.

    Aparte: Por outras palavras, nesse momento o indivíduo é amor?
    K.: Infelizmente não, porque não há um momento reconhecível como ‘esse momento’. Não há ‘processo’ de reconhecer que vocês são o amor. Vocês já não sentiram raiva, já não odiaram alguém? E vocês dizem, então. ‘Eu sou isso (a raiva, o ódio, a inveja, a violência, etc.’)? Não há aí um momento reconhecível, há? Vocês são a coisa, completamente. Só então a mente é capaz de descobrir o verdadeiro, porquanto a mente livre pode seguir o fato. Para seguir o fato de que odeiam, vocês não necessitam de autoridade alguma; necessitam é de uma mente livre do medo, de opiniões e que não condena. Tudo isso exige muito trabalho. Para se ‘viver’ com uma coisa bela ou coisa feia, requer-se intensa energia. Já notaram que o camponês, o montanhês que ‘vive’ ao lado de uma majestosa montanha, nem sequer a vê, pois se acostumou com ela? Mas, para ‘viver com uma coisa’ e nunca se acostumar com ela, necessita-se de muita intensidade, daquela extraordinária energia. E essa energia só se manifesta quando a mente é livre, quando não há medo, quando não há autoridade.

    Aparte: O processo de purificar a mente é processo do pensamento?
    K.: Mas, o pensamento pode ser puro? Todo pensamento não é impuro? Como pode uma coisa impura purificar qualquer outra coisa? Porque o pensamento nascendo da memória já está contaminado. Por mais lógico, racional, (elevado) que seja, está contaminado (por hábitos, crenças, cultura, etc.) é mecânico. Por conseguinte, não existe pensamento puro, pensamento ‘livre’. Ora, o percebimento desta verdade exige penetração de todo o processo da memória, isto é, ver que a memória é mecânica e se baseia apenas no passado. O pensamento nunca pode tornar a mente pura; e o percebimento deste fato é a purificação da mente. Por favor, não concordem nem discordem. Examinem, procurem, como quem procura dinheiro, posição, autoridade e poderio; daí nascerá uma mente maravilhosa, purificada, ‘inocente’, fresca, uma coisa nova (antes desconhecida) e, portanto, num estado de criação e, assim, de revolução.

    Aparte: No momento da percepção de o que é, o senhor pode dizer-nos o que acontece?
    K.: Posso lhes dar uma descrição, mas de que servirá ela? Consideremos a questão. O fato é que amamos, que somos ciumentos, invejosos, violentos, etc. E condenamos o fato, dizendo ‘Não devo ser assim’, logo já há conflito, divisão. O que é que cria a divisão? Primeiro que tudo, a palavra. A palavra ‘ciúme’ já é, em si mesma, separatista, condenatória, mostra contradição, divisão. A palavra é invenção da mente, convencionalismo; da mente cheia de conhecimentos acumulados, através de séculos e, portanto, nos torna incapazes de considerar o fato sem o uso da palavra. Mas, quando a mente considera o fato sem condenação, avaliação, comparação, quer dizer, sem a palavra, então o sentimento não é o mesmo da descrição que a palavra produz, não é a palavra. Considerem a palavra ‘beleza’. Todos parecemos suspirar quando se pronuncia esta palavra! Para a maioria, a beleza é coisa dos sentidos (a paisagem que vemos, a musica que ouvimos etc.). É também descritiva: ‘Ele é um homem de aparência agradável’ ou ‘Que edifício feio!’. Também comparação: ‘Esse é mais bonito que aquele’. Sempre a palavra é empregada para descrevermos algo que percebemos através dos sentidos, a coisa manifestada, o quadro, a árvore, o céu, a montanha, a pessoa, o fato observado.


    Ora, existe a beleza sem a palavra, beleza q transcende à palavra, aos sentidos? Se perguntarmos ao artista, ele dirá que, sem a expressão (sem manifestação para que se possa perceber pelos sentidos) a beleza não existe. Mas, isso é exato? Para se descobrir o que é a beleza, descobrir sua imensidade, sua totalidade, precisamos ir além dos sentidos, ultrapassar as coisas que rotulamos como ‘beleza’ e ‘fealdade’. Estão compreendendo? De modo igual, para se seguir um fato, como o ciúme, por exemplo, requer-se uma mente que lhe dê toda a atenção, que vá até suas raízes, que compreenda o seu porquê. Quando vemos o fato, no próprio percebimento, no mesmo instante de vê-lo, o ciúme desaparece, vai-se completamente. Mas nós não desejamos o desaparecimento total do ciúme. Fomos educados, condicionados, pela cultura, costumes e crenças, a gostar do ciúme, a ‘viver com ele’, e pensamos que, se não há ciúme, não existe amor.

    Assim, o seguir um fato requer atenção, vigilância. E, depois, que sucede? O que sucede ao estarmos verdadeiramente vigilantes? Vocês entendem? A própria vigilância, a atenção importa mais que o resultado final; é mais significativa do que estar livre do fato.

    Aparte: Pode haver pensamento sem a memória?
    K.: Por outras palavras, o senhor pergunta se existe pensamento sem a palavra, é isso? Vamos examinar isso. Este orador está se servindo do pensamento? O pensamento como palavra é necessário para a comunicação, não? O orador tem de se servir das palavras – neste caso palavras da língua inglesa, se deseja comunicar-se com vocês que entendem o inglês. E as palavras, evidentemente, promanam, resultam da memória. Mas, qual é a fonte, o que existe atrás da palavra?

    Vou me expressar de outra maneira. Ali está um tambor; ele emite um certo som. Quando a pele está bem esticada, na tensão correta, batendo-se nele, ele emite o tom correto, que é possível reconhecer. O tambor, que é vazio e que foi posto na tensão correta, é como sua mente pode ser. Quando há atenção correta e se faz a pergunta correta, então a mente dá a resposta correta. A resposta pode ser em termos verbais, reconhecíveis; mas o que provém daquele vazio, isto, por certo, é criação. A coisa criada por meio do conhecimento é mecânica; mas, a coisa que provém do vazio do desconhecido, esta é o ‘estado de criação’.
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      Data/hora atual: Sáb Abr 27, 2024 5:46 pm