Máscaras de Deus

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Filosofia Oriental e Espiritualismo Prático

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    Mensagem  Convidad Sáb Jun 11, 2011 9:58 am









    Assistam o resto no youtube, não percam a parte 5, 6 e 7 é importante a conclusão.
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    Conhecendo NIETZSCHE Empty Re: Conhecendo NIETZSCHE

    Mensagem  Monstrinho Sáb Jun 11, 2011 3:17 pm

    Olá,



    É importante lembrar que Nietzsche foi um grande estudioso não só da Mitologia Grega (especialista), mas também da Filosofia Oriental, e também do Zoroatrismo, além de um ter sido um dos raros homens (não beatos e iluminados) que compreendera a mensagem de Jesus em sua essência. De fato, como observa Osho, Jesus estudou e aprendeu Filosofia Oriental até os seus 30 anos, pois do contrário ele não poderia ter dito "eu não vim destruir a lei, mas cumpri-la". Ora, cumprir qual lei? A lei mosaica? Não! Pois se o fizesse, estaria dando continuidade a um conjunto de leis antigas e obsoletas, lavradas para homens em estado de compreensão psicológica muito aquém do conteúdo e da essência do seu Evangelho. Portanto, a Lei que Jesus vem cumprir, é a Lei que já tinha então, sido divulgada pelos grandes mestres do passado, antes dele, como Krishna e o próprio Buda além de outros.

    Talvez ele, Nietzsche, seja o único filósofo no ocidente que fez uma crítica efetiva ao "espírito" do Cristianismo. Essa crítica, malgrado parecer uma crítica menos digna, na verdade ela não o é: ela é precisamente uma crítica que faz refletir sobre a questão da moralidade, como tema central que divide a sociedade entre bons e maus, superiores e inferiores.

    O que é o Além-homem senão o EU superior das tradições espiritualistas orientais?

    Nietzsche é criticado e odiado, até hoje, por gregos e troianos, porque ele localiza a moralidade no cerne de todas as doutrinas de igualdade social, e as religiões, são doutrinas de igualdade: "todos são iguais perante Deus", mas isto é uma grande mentira, segundo nos demonstra Nietzsche, porque, os próprios representantes de Deus na Terra, fazem uma distinção entre "bons" e "maus", logo, "o sacerdote é um mentiroso", diz Nietzsche.

    Todas as nossas instituições são de caráter cristão: as nossas leis; a ciência, as instituições como família, escola, igreja (esta nem precisávamos citar Very Happy ), são todas cristãs, o seu cerne, a sua essência é de caráter cristão. A ciência, por exemplo, figura como aquela instituição do conhecimento que irá salvar a humanidade de todos os males do corpo, ao tempo em que - auspicia ela - construirá um mundo de comodidades, confortos e facilidades para a humanidade e erradicará as doenças assim como todos os males da face da Terra.

    Aliás, a idéia de salvação é o grande mal que perdurará - profetiza Nietzsche - nos tempos vindouros! A idéia do salvador que virá para restaurar o reino de Israel e aniquilar os seus verdugos impiedosos, é apropriada pelos sacerdotes - escribas, fariseus e saduceus - da época de Jesus - de modo que, a idéia do salvador precisa ser cultuada pela massa, mas, de maneira simbólica o que se demanda é que haja representantes desse salvador no mundo. Por isso é que Jesus figura como um empecilho e uma ameaça ao poder sacerdotal dos fariseus, que é abalado repentinamente, e por isso, eles matam Jesus. A idéia do salvador então, é recriada - "morreu na cruz para redimir nossos pecados", e os próprios discípulos seguem essa idéia, que será mais tarde materializada na estruturação da igreja romana, que dá origem ao Cristianismo, com a idéia de que, para se salvar, temos que recorrer às instituições que representam, supostamente, o poder de "Deus todo-poderoso" na Terra.

    Paradoxalmente, Nietzsche na sua singular argúcia filosófica e psicológica, escreve "O Anticristo" - para horror da beatitude institucionalizada em geral, incluindo os espíritas que irão salvar as demais religiões "dogmáticas" de seu obscurantismo Wink (me desculpem, eu não resisiti rsrs) - que é uma obra, cujo tema central é claro e sem margens a dúvidas e enganos: o anti-cristo são todas as religiões cristãs e a sua MORALIDADE artificial construída e divulgada pelos seus seguidores, com o objetivo de criar distinções entre fortes e fracos, bons e maus. A moralidade cria a dualidade, (= ilusão) se assim podemos nos expressar.

    Obviamente que o virtuoso é aquele bem posto na sociedade e no quadro da moralidade institucionalizada, ou seja, que respeita as normas e tradições morais vigentes na sociedade, mas com um objetivo único, que é apontar aqueles que não seguem essas leis Wink. Por isso, para Nietzsche, o Cristianismo é a doutrina dos fracos e covardes, ou seja, daqueles que tem medo de demandar o Além-homem (ou EU superior), e por isso crucificam os que não seguem essa moralidade artificial. Desta maneira, Nietzsche reduz a pó os falsos e hipócritas valores cristãos, que têm por objetivo forjar uma suposta ordem moral natural, instaurada por deus, mas que no fundo, clama apenas por reproduzir a sociedade estruturada em camadas ou classes sociais, de modo que a própria moralidade sirva como um escudo protetor dos "mais fortes", e mais que isso, legitimador, daqueles que usufruem posições de poder na sociedade, sejam quais forem suas modalidades, em todas as suas instâncias. Estes, são para Nietzsche, os fracos, os representantes da moralidade, que, através da religião, têm como papel afastar o homem do auto-conhecimento, o que equivale a dizer, parafraseando o nosso amigo Anton Kiudero, que "o papel das religiões é afastar o homem de Deus", e essa, é precisamente a idéia-chave da filosofia de Nietzsche - embora ele não utilize o termo "deus".

    Mas a obra de Nietzsche não está aí para que se odeiem as religiões anti-cristãs (contrárias aos ensinos do Cristo [quais são elas? Todas!]), não! Não se deve odiá-las, senão lamentá-las e principalmente evitá-las.

    Abçs,



    Última edição por Monstrinho em Sáb Jun 11, 2011 4:07 pm, editado 1 vez(es)
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    Mensagem  Convidad Sáb Jun 11, 2011 4:06 pm

    Oi Montrinho,
    Eu li um único livro de Nietzsche, "O Anti-Cristo" , que foi passado por você.
    Mas a influência Oriental de Nietzsche veio de Schopenhauer, segundo Viviane Mosé
    Está neste último vídeo, enfim, vocês que são Filósofos que se entendam Very Happy
    Fora isso Viviane afirma sobre o pensamento de Nietzsche exatamente o que você colocou, com muita propriedade pede liberdade para falar sobre a organização do pensamento religioso, porque aqui falamos de Filosofia e não criticando necessariamente as religiões.
    Veja é muito interessante a maneira como ela se expressa.

    [youtube] https://www.youtube.com/watch?v=fZGuNvy8Jes&feature=related [/youtube]


    Última edição por Hebinha em Sáb Jun 11, 2011 6:48 pm, editado 1 vez(es)
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    Conhecendo NIETZSCHE Empty Re: Conhecendo NIETZSCHE

    Mensagem  Monstrinho Sáb Jun 11, 2011 5:43 pm

    Hebinha escreveu:Oi Montrinho,
    Eu li um único livro de Nietzsche, "O Anti-Cristo" , que foi passado por você.

    Leia também "Assim Falava Zaratustra", que são "cantos de Zaratustra", dividido em várias partes e cujo tema central, é a moralidade cristã produzindo a decadência da humanidade.

    Conhecendo NIETZSCHE Nietzsche

    Sugiro comprar o livro, porque essas traduções que têm na net são muito ruins (Essa acima, é a edição que eu tenho, 2a. ed., com tradução do filósofo Mário Ferreira dos Santos)

    Abçs,

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    Conhecendo NIETZSCHE Empty Um grande toque de Nietzsche

    Mensagem  Convidad Sáb Jun 11, 2011 5:49 pm



    Para todos nós!!!!
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    Mensagem  Monstrinho Sáb Jun 11, 2011 5:59 pm

    Hebinha escreveu:

    Para todos nós!!!!

    Onde você achou esse vídeo?? Isso aí é a Roda do Sansara meu! Twisted Evil

    Muito bom!

    Abçs,

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    Mensagem  Convidad Sáb Jun 11, 2011 6:15 pm

    Ele acabou com a paz do Psiquiatra dele, veja o filme inteiro, é muito doido hahaha!!!
    Vou ver se alugo no Rio. porque com certeza por aqui eu não acho. Tem vários trechos na Net
    Esse tipo de filme passa nas salas de cinema cult por lá. Aqui é só grande circuito.
    O nome é " Quando Nietzsche chorou"


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    Mensagem  Monstrinho Sáb Jun 11, 2011 8:16 pm

    Hebinha escreveu:Assistam o resto no youtube, não percam a parte 5, 6 e 7 é importante a conclusão.

    Poxa! Por que não postou todos? Acabei de assistir e vou postar os demais aqui, que é para ficar na mão Wink .








    A Viviane Mosé é realmente fantástica! Sabe tudo sobre Nietzsche e expõe de uma maneira simples e inteligível.

    Tudo a ver com o que vimos estudando desde há tempos. Tudo a ver com Buda e seus ensinamentos, com Jesus, e com os ensinamentos da Filosofia Vedanta, tanto é que, no vídeo 6, na intervenção do jovem filósofo, ouvimos ele dizer algo como "aceitar com naturalidade a dor e o prazer"; nada mais "budístico" do que isto.

    Bom, eu teria que assistir novamente os vídeos para comentar um por um, porque a Viviane fala da Filosofia Geral do Nietzsche de uma maneira bastante sintética, e não só do aspecto da moral cristã.

    Nos pré-socráticos, encontramos então, os mitos tentando explicar a origem das coisas, o porquê disso ser assim e aquilo ser assado e etc. Não havia então, a preocupação de explicar o mundo através de uma teoria a priori. A idéia que se tinha era que a Natureza era superior ao homem, e que tudo estava concatenado e correto. Não havia a preocupação de domínio que se tem hoje, de domínio sobre a Natureza.

    Com o surgimento da Filosofia, propriamente dito, a partir de Sócrates, o pensamento vai criar esse a priori e com isso, como diz a Viviane, o homem vai tentar - na visão de Nietzsche - se auto-construir a partir do pensamento. É aí que surge a ilusão. Como ela mesma argumenta, Nietzsche irá dizer que todo o pensamento pós-socrático, seja filosófico, científico, ou qualquer outro tipo de literatura, vai tentar construir o projeto de um mundo e um homem idealizados, que não correspondem em nada ao que é o homem e o mundo em sua realidade e concreticidade.

    E por isso Nietzsche irá criticar o Idealismo. E a Viviane dá o exemplo do passeio no Cruzeiro, em que o pensamento idealista, idealiza uma felicidade impossível de ser vivida, porque nesse processo de "idealizar", não se leva em conta o balanço do Cruzeiro pelas ondas do mar, o marido ou a mulher roncando à noite, ou seja, não se leva em conta os "contras", as adversidades que poderão surgir, mas somente se idealiza o que é bom e prazeroso.

    No conceito de Niilismo, ela separa dois tipos de niilismo - que eu não me lembro agora - mas que diz respeito ao niilismo do passado, que busca orientar a vida presente mediante as tradições e os costumes passados, e o niilismo futuro, que é o idealismo, idealizando como deve ser o futuro, a saber que ele deve ser de prosperidade, felicidade, progresso, mas sem atentar para o fato de que esse futuro poderá ser desastroso.

    E para Nietzsche, ambas formas de niilismo (nadismo) são ilusórias, porque, uma dizendo respeito ao passado, ou seja, conduzindo a vida presente baseando-se no que aconteceu no passado, e a outra tentando conduzir a vida presente planejando o futuro, não aceitam o presente, e com isso cria-se um mundo ilusório, um homem artificial, e um mundo que é um eterno devir, no sentido de que, o belo, o feliz, o bom, está sempre por vir, e não chega nunca.

    Na minha opinião, o pensamento de Nietzsche só vem corroborar as considerações de Krishnamurti sobre o passado e o futuro enquanto ilusões, e ainda que Nietzsche não tenha se baseado na Filosofia Oriental para estruturar o seu pensamento, a sua filosofia veio desaguar no mesmo mar, ou seja, nas mesmas conclusões da Filosofia Oriental de todos os tempos, porque Nietzsche, fez um confronto entre o pensamento mítico - que vê as coisas como elas são (Alberto Caeiro - Fernando Pessoa) - e o pensamento filosófico, que projeta e constrói um mundo que não existe, e nem virá a existir, ou ainda, constrói uma representação simbólica de como o mundo deveria ser, e não sobre como ele é.

    Reparem que, num dos vídeos ela diz que todos os filósofos se baseiam em referências, ou seja, retomam esse ou aquele pensamento a partir de um ou outro filósofo, ou a partir dessa ou daquela escola filosófica. Mas Nietzsche não faz isso: ao invés de questionar o que é a verdade, pergunta para que ela serve, e descobre que a verdade é um conceito inventado pelo pensamento idealista, que sempre projeta no futuro a possibilidade e a concreticidade da obtenção da felicidade plena, o que é evidentemente uma ilusão.

    Fiquei encantado com a Viviane, uma grande filósofa que veio trazer para nós o pensamento de Nietzsche sem complicações, de uma maneira descontraída e até divertida.

    Assistam, que é muito bom.

    Abçs,



    Última edição por Monstrinho em Sáb Jun 11, 2011 9:13 pm, editado 1 vez(es)
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    Mensagem  Monstrinho Sáb Jun 11, 2011 9:08 pm


    Assim Falava Zaratustra, on-line

    http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/zara.html Wink

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    Mensagem  Convidad Sáb Jun 11, 2011 9:22 pm

    Muito Obrigada ,e o próximo que eu vou ler Very Happy
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    Mensagem  Monstrinho Sáb Jun 11, 2011 9:24 pm

    Hebinha escreveu:Muito Obrigada ,e o próximo que eu vou ler Very Happy

    Vou dar umas dicas,

    Esse canto, por exemplo, é um dos meus prediletos:


    DAS MOSCAS DA PRAÇA PÚBLICA

    “Foge, meu amigo, para a tua soledade! Vejo-te aturdido pelo ruído dos grandes homens e crivado pelos ferrões dos pequenos.

    Dignamente sabem calar-se contigo os bosques e os penedos. Assemelha-te de novo à tua árvore querida, a árvore de forte ramagem que escuta silenciosa, pendida para o mar.

    Onde cessa a soledade principia a praça pública, onde principia a praça pública começa também o ruído dos grandes cômicos e o zumbido das moscas venenosas.

    No mundo as melhores coisas nada valem sem alguém que as represente; o povo chama a esses representantes grandes homens.

    O mundo compreende mal o que é grande, quer dizer, o que cria; mas tem um sentido para todos os representantes e cômicos das grandes coisas.

    O mundo gira em torno dos inventores de valores novos; gira invisivelmente; mas em torno do mundo giram o povo e a glória: assim “anda o mundo”.

    O cômico tem espírito, mas pouca consciência do espírito. Crê sempre naquilo pelo qual faz crer mais energicamente — crer em si mesmo.

    Amanhã tem uma fé nova, e depois de amanhã outra mais nova. Possui sentidos rápidos como o povo, e temperaturas variáveis.

    Derribar: chama a isto demonstrar. Enlouquecer: chama a isto convencer. E o sangue é para ele o melhor de todos os argumentos.

    Chama mentira e nada a uma verdade que só penetra em ouvidos apurados. Verdadeiramente só crê em deuses que façam muito ruído no mundo.

    A praça pública está cheia de truões ensurdecedores, e o povo vangloria-se dos seus grandes homens. São para eles os senhores do momento.

    O momento oprime-o e eles oprimem-te a ti, exigem-te um sim ou um não. Desgraçado! Queres colocar-te entre um pró e um contra?

    Não invejes esses espíritos opressores e absolutos ó! amante da verdade! Nunca a verdade pendeu do braço de um espírito absoluto.

    Torna ao teu asilo, longe dessa gente tumultuosa; só na praça pública assediam uma pessoa com o “sim ou não?”.

    As fontes profundas têm que esperar muito para saber o que caiu na sua profundidade.

    Tudo quanto é grande passa longe da praça pública e da glória. Longe da praça pública e da glória viveram sempre os inventores de valores novos.

    Foge, meu amigo, para a soledade; vejo-te aqui aguilhoado por moscas venenosas.

    Foge para onde sopre um vento rijo.

    Foge para a tua soledade. Viverás próximo demais dos pequenos mesquinhos. Foge da sua vingança invisível! Para ti não mais que vingança.

    Não levantes mais o braço contra eles!

    São inumeráveis, e o teu destino não é ser enxota-moscas!

    São inumeráveis esses pequeninos e mesquinhos; e altivos edifícios se têm visto destruídos por gotas de chuva e ervas ruins.

    Não és uma pedra, mas já te fenderam infinitas gotas. Infinitas gotas continuarão a fender-te e a quebrar-te.

    Vejo-te cansado das moscas venenosas, vejo-te arranhado e ensangüentado, e o teu orgulho nem uma só vez se quer encolerizar.

    Elas desejariam o teu sangue com a maior inocência; as suas almas anêmicas reclamam sangue e picam com a maior inocência.

    Mas tu, que és profundo, sentias profundamente até as pequenas feridas, e antes da cura já passeava outra vez pela tua mão o mesmo inseto venenoso.

    Pareces-me altivo demais para matar esse glutões; mas repara, não venha a ser destino teu suportar toda a sua venenosa injustiça!

    Também zumbem à tua roda com os seus louvores. Importunidades: eis os seus louvores. Querem estar perto da tua pele e do teu sangue.

    Adulam-te como um deus ou um diabo! choramingam diante de ti como de um deus ou de um diabo. Que importa?

    São aduladores e choramingas, nada mais.

    Também sucede fazerem-se amáveis contigo; mas foi sempre essa a astúcia dos covardes. É verdade; os covardes são astutos!

    Pensam muito em ti com a alma mesquinha. Suspeitam sempre de ti. Tudo o que dá muito que pensar se torna suspeito.

    Castigam-te pelas tuas virtudes todas.

    Só te perdoam verdadeiramente os teus erros.

    Como és benévolo e justo, dizes: “Não têm culpa da pequenez da sua existência”. Mas a sua alma acanhada pensa: “Toda a grande existência é culpada”.

    Mesmo que sejas benévolo com eles, ainda se consideram desprezados por ti e pagam o teu benefício com ações dissimuladas.

    O teu mudo orgulho contraria-os sempre, e alvorotam quando acertas em ser bastante modesto para ser vaidoso.

    O que reconhecemos num homem infamamos-lhe também nele. Livra-te, portanto, dos pequenos.

    Na tua presença sentem-se pequenos, e sua baixeza arde em invisível vingança contra ti.

    Não notaste como costumávamos emudecer quando te aproximava deles, e como as forças os abandonavam tal como a fumaça que se extingue?

    Sim, meu amigo; és a consciência roedora dos teus próximos, porque não são dignos de ti. Por isso te odeiam e quereriam sugar-te o sangue.

    Os teus próximos hão de ser sempre moscas venenosas. E o que é grande em ti deve precisamente torná-los mais venenosos e mais semelhantes às moscas.

    Foge, meu amigo, para a tua soledade, para além onde sopre vento rijo e forte. Não é destino teu ser enxota-moscas”.

    Assim falava Zaratustra.


    ***************************

    Mas há outros muito bons também. Não sugiro ler em seqüência. Este livro é de cabeceira, é para rezar na hora de dormir Twisted Evil

    Wink

    Abçs,

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    Conhecendo NIETZSCHE Empty Nietzsche deve ser levado a sério?

    Mensagem  Monstrinho Qui Jul 28, 2011 8:04 pm

    Eu penso que Nietzsche talvez seja o único filósofo ocidental a ser levado a sério. Ele apontou para o "rei que está nu", colocando em evidência todas as mentiras da Filosofia Idealista, que, como nos diz Bachelard "constrói um mundo à imagem e semelhança da razão", ou seja, constrói um mundo ilusório.

    Nietzsche desbanca o ideal da verdade da ciência e da filosofia modernas. Não pergunta, "O que é a verdade", mas sim, "Para que ela serve", o que irá de algum modo fornecer elementos para uma crítica da ciência a partir da Sociologia da Ciência.

    O que é uma verdade? Existe a verdade? Uma verdade é aquilo que se auto-evidencia por si mesma, logo, porque uma instituição como a ciência, com métodos e técnicas peculiares, tem a necessidade de demonstrar uma verdade?

    Qual é a verdade do Sol? Dirá Alberto Caeiro (Fernando Pessoa): "A verdade do Sol é que ele está brilhando, e a única verdade de uma flor é que ela existe, e nada mais". Mas a ciência diz que a "verdade sobre o Sol" é que ele é uma estrela que converte Hidrogênio em Hélio, e isto é que faz gerar a sua luminosidade. Ora, que verdade é essa, senão uma "verdade" construída pela razão?

    Mas, vamos resumir o que é a filosofia de Nietzsche. Ela não é senão uma crítica ao "ideal da verdade", que tem suas origens em Sócrates e sua culminância na Filosofia Idealista Moderna, talvez na filosofia de Kant, ao preconizar - e retomar o velho ideal grego - de procurar por detrás das aparências, alguma verdade. Me parece que Kant diz que a "coisa em si" é impossível de ser alcançada, mas Nietzsche diz que "a coisa em si" de Kant é uma grande mentira.

    O ideal da Filosofia e da Ciência Moderna ocidentais é "procurar ver além dos sentidos, porque os sentidos enganam" (Descartes). Os índios do Mato-grosso ou da Amazônia olham as Plêiades em Touro, e vêem um "enxame de abelhas", mas a ciência aponta o telescópio e diz estar vendo um aglomerado de estrelas constituídas de Hidrogênio, com idade não superior a 100 milhões de anos, e distando da Terra, cerca de 400 anos-luz. Então temos apenas um sentido artificial (telescópio) vendo mais longe. Mas o fato de ver mais longe não significa nada! O que é importante é a "auditoria", a "averiguação" a interpretação que o pensamento científico irá fazer desse "olhar que viu mais longe", e aí se constrói todo o conjunto de crenças de que "são estrelas que nasceram de uma nuvem de Hidrogênio e que estão envoltas por esse gás de temperatura elevadíssima. A ciência está portanto construindo uma representação simbólica, através da razão, sobre o que foi observado.

    Até aqui tenho tecido uma breve crítica da ciência. Vamos falar rapidamente como Nietzsche vê a ciência. Para ele, a ciência é de cunho cristão Essa doeu né? Mas é verdade!

    A ciência substitui a religião quando se torna uma instituição superprotetora, assim como a religião era no passado. O ideal da ciência é cristão: ela não te promete o céu ou o inferno, mas promete a cura dos males do corpo de da mente; enquanto a religião permitia que você tivesse várias amantes e poderia matar um monte de gente em nome de Deus, desde que se pagasse o dízimo, a ciência também permite que o indivíduo use drogas, fume, beba, faça sexo, trabalhe além das forças, pois ela tem os medicamentos e as técnicas cirúrgicas para curar as doenças advindas dessas práticas. Se você está ansioso ou depressivo por que vive num mundo louco de extrema competição, não há problema, há ciência dispõe de psiquiatras e calmantes para que você continue vivo.

    Vamos tomar como exemplo, para facilitar o pensamento de Nietzsche essas poesias do Alberto Caeiro - Fernando Pessoa.

    O conto antigo da Gata Borralheira,
    O João Ratão e o Barba Azul e os 40 Ladrões,
    E depois o Catecismo e a história de Cristo
    E depois todos os poetas e todos os filósofos;
    E a lenha ardia lá fora em dias de destino,
    E por cima da leitura dos poetas as árvores e as terras...
    Só hoje vejo o que é que aconteceu na verdade.
    Que a lenha ardida, exatamente porque ardeu,
    Que o sol dos dias de destino, porque já não há,
    Que as árvores e as terras (para além das páginas dos poetas) -
    Que disto tudo só fica o que nunca foi:
    Porque a recompensa de não existir é estar sempre presente.

    Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) IN: Poemas Inconjuntos

    _______________________________

    Todas as opiniões que há sobre a natureza
    Nunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor.
    Toda a sabedoria a respeito das coisas
    Nunca foi coisa em que pudesse pegar como nas coisas;
    Se a ciência quer ser verdadeira,
    Que ciência mais verdadeira que a das coisas sem ciência?
    Fecho os olhos e a terra dura sobre que me deito
    Tem uma realidade tão real que até as minhas costas a sentem.
    Não preciso de raciocínio onde tenho espáduas.


    Aberto Caeiro (Fernando Pessoa) - IN: Poemas Inconjuntos (1913-1915).
    http://mascarasdedeus.blogspot.com/2011/06/delirios-da-razao-ii.html


    Para Nietzsche, portanto, a razão cria um mundo falso, e a Filosofia Idealista cria um homem e um mundo que estão muito aquém do que é realmente o homem e o mundo.


    Conceitos de "fraco e forte" em Nietzsche_

    Para Nietzsche, a moralidade socialmente instituída cria a fraqueza. Como no canto de Zaratustra "Dos Virtuosos", as pessoas religiosas fazem o "bem" com vistas a dois objetivos: o primeiro é fazer notar, salientar a existência dos "maus" e da sua "maldade" - porque, se eu "sou do bem", logo tem que haver o "do mal". O segundo objetivo é que os "virtuosos" querem ser recompensados pelo "bem" que fazem, e daí Nietzsche faz notar que os conceitos de "bem" e "mal" são invenções da moralidade e da razão. Mas aqui é preciso cuidado, pois, como eu já andei lendo aí para traz, há a interpretação de que Nietzsche valoriza os instintos humanos, mas a questão não é bem por aí, porque o próprio Nietzsche não foi um homem que viveu sob o império dos instintos, muito pelo contrário, ele gostava de artes, de música clássica, ou seja, ele valorizava a cultura humana, mas criticou o mundo ilusório criado e idealizado pelos filósofos e pelos cientistas.

    Nietzsche era ateu? - qual era o "deus de Nietzsche"? Ele foi um dos poucos homens que compreenderam o que Jesus veio fazer na Terra. Leiam e tirem suas conclusões ==> https://mascarasdedeus.forumeiros.com/t40-auto-conhecimento-em-friedrich-nietzsche-a-psicologia-dos-evangelhos-segundo-nietzsche

    Nietzsche assinala que Jesus interpretou a verdade como realidades subjetivas no aqui e agora, o que está de acordo com todos os mestres da Filosofia Oriental - Krishna, Buda, e mais recentemente, Swami Vivekananda e Krishnamurti, que retomam no século XIX toda a tradição da Filosofia Vedanta, cuja cultura indiana fora ameaçada pela invasão dos ingleses e sua cultura ocidental no século XIX).

    Então o cristianismo, NEGA - assim como a Filosofia Idealista - o aqui e agora, e sempre projeta no futuro a realização da felicidade, o que é um engodo e uma mentira, segundo Nietzsche.

    Tampouco o passado deve servir de referência para se construir o futuro, diz Nietzsche, e nesse sentido, ele mesmo é um filósofo cujos referenciais são os mitos gregos, a mitologia grega e nisso, Nietzsche é singular, pois que não retoma a Filosofia a partir dos seus vícios e dos erros do Idealismo - o Mundo das Idéias de Platão - e por isso mesmo é que Nietzsche é um dos poucos filósofos que devem ser levados a sério.

    http://forum.consciencia.org/nietzsche/alguem-leva-nietzsche-a-serio/msg20576/#new

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    Azuramaya


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    Mensagem  Azuramaya Qui Jul 28, 2011 9:49 pm

    Temos em Nietzsche uma das etapas do desenvolvimento mental-emocional humano. Cumpre observar que a maturidade do pensamento se estabelece na medida em que se usa do objetos presentes nos mundos externo e interno pessoais sem a criação da ficção que transcenda a realidade madura entre termos fixos não voláteis.
    Num primeiro momento é típico do homem clamar por um deus, crendo estar com ele em comunicação e relação, coisa plenamente normal se vista a partir do aparato emocional egóico. O tempo mostra que a pretensa relação é apenas uma ilusão do ego pela vontade de se elevar que em nada acrescenta além de um afogamento na transrealidade a qual, em caso contrário, poderia fazer boiar e tornar sábio. Assim, a mitificação toma corpo e uma mentira permitida pela vontade deliberada de se exacerbar da forma mais egoísta possível acaba se misturando com uma vontade de sublimação, porém, totalmente embasada no falicismo mundano.
    Depois disso vem a etapa Nietzschiana onde a razão se assevera e se separa da emoção, se rebelando contra essa e se endurecendo de forma a não permitir que o grito de outrora ..." Cadê você"... ecoe novamente. Tudo é então, apenas sentido, percepção e dedução. A morte perime tudo de forma cabal e as suposições e mitologia que negam o fim são "mitologicamente" aceitas com o "não acontece nada depois dela", como se isso já tivesse sido vivenciado. Nesse ponto percebemos o estágio infantil onde a criança que clamou pelo Pai e ele não surgiu, o alija do seu Universo de forma violenta e reativa, sem espasmos de lucidez capazes de ser maior do que a emoção provocada pela frustração.
    Nietzsche apenas estancou nessa forma emocional negativa disfarçada por um empirismo de negação aparente que alimenta a idéia dos que ainda não chegaram ao terceiro estágio.
    No terceiro estágio a maturidade mostra que a idéia de Deus não é emocional, mas apenas a única saída para expressar a miríade de pensamentos à cerca da incerteza de todas as coisas e sua total relatividade dentro de um espaço Cartesiano imprevisível. Tudo seria um jogo de cartas marcadas por uma mente tão prodigiosamente acima da nossa que a previsibilidade de todos os eventos seria 100% possível, assim no final tudo estaria certo e a brincadeira cósmica terminaria com todos sorrindo e querendo mais!
    Por que a realidade sensorial ( o que sentimos hoje) deveria ser mais real do que as coisas que ainda não sentimos? Pretensão ou auto-limitação da segunda fase?
    Pelo pensamento contrário:
    Por que a hipótese mitológica deveria ser maior do que todas as constatações empíricas?
    Assim, no terceiro estágio unimos a vontade do crer emocional que se compõe através da zombaria da nossa imaginação ao empirismo duro e seco do só creio no que vejo.
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